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terça-feira, 19 de maio de 2009

Garapa




Incrível como em poucos momentos seu dia muda completamente; ontem estava me planejando pra assistir Anjos & Demônios, mas então ganhei um convite pra pré estréia de Garapa, novo documentário de José Padilha. Confesso que nem pensei duas vezes pra me decidir sobre o que fazer... lá fui eu para o Cine Bombril ver o documentário.
50 pessoas no máximo, uma breve introdução do José Padilha sobre o tema do documentário e o modo como foi filmado e lá vamos nós, começa a projeção...
Diferentemente de Tropa de Elite e Ônibus 174 (confesso que não vi nenhum dos dois), Garapa fala de outro tipo de violência; a violência da fome. A idéia de Padilha era dar voz, rosto e corpo às estatísticas sobre esse assunto; dar rosto ao altíssimo número de crianças que perdem a guerra contra a fome diariamente (ONU 2006); dar voz àqueles pais que sofrem tendo que escolher entre fazer almoço ou janta, pois não podem prover as duas refeições para seus filhos; dar corpo àquelas famílias que se deparam com a morte do que plantou por causa da ausência de chuva. Pela reação da pequena platéia presente, posso dizer que Padilha conseguiu o que queria.
Ali estão retratadas não apenas famílias que estão em pequenas comunidades distantes de "centros" e sem atendimento médico; há também famílias que passam pelo mesmo quadro de insuficiência alimentar grave e estão em "grandes centros urbanos", como Fortaleza por exemplo.


Conversei um pouco com meu irmão após o filme; mesmo partilhando da mesma insegurança, o filme mostrava uma suave distinção entre as famílias. Em alguns dos depoimentos, mesmo com toda a gravidade da situação, mesmo com o sofrimento observado, ainda é possível observar a esperança, a confiança.. um dos pais disse: "confio que Deus esteja olhando por esses meninos...".


Diariamente ouvimos que muitos ao redor do mundo sofrem com a fome, com a ausência de perspectiva sobre como farão para alimentar-se e sobreviver. Porém, olhando mais de perto, vemos que não é só a fome física que o filme retrata. Olhando de perto vemos também a fome por sentido de vida; e essa, não há Fome Zero, organização não governamental, ONU ou qualquer outro órgão que possa suprir. Essa "outra fome" pode ser caracterizada pela ausência de esperança, falta de razão de existir, confusões, conturbações e muitas outras características.
Pode ser que não haja ninguém com quadro de "insuficiência alimentar grave" (termo utilizado para descrever aquele que vive em situação de risco) convivendo conosco aqui na capital gastronômica do país, em nosso círculo profissional ou pessoal, mas e sobre essa "outra fome", essa que não é saciada por alimento? Sobre essa outra fome, não conseguimos montar documentários baseados em números levantados pela ONU, em cenas que nos chocam ou coisas do gênero... conseguimos montar filmes específicos retratando o desespero, a solidão, a angústia ocasionadas por diversas razões. Será que estamos preocupados com esse tipo de fome?
Vivemos numa sociedade levada pelo ditado: "ema, ema, ema, cada um com seus problemas" e por outras pérolas do gênero; uma sociedade onde o relativismo e a superficialidade tem dominado, onde tudo depende do ponto de vista que está sendo analisado.

Agora falo por mim: ok, eu, cristã confessa, participo de viagens à Cananéia para levar remédios e alimentos aos moradores das regiões ribeirinhas, participo do programa que leva alimento, roupas e cobertores aos moradores de rua de São Paulo e outras coisa, mas como tenho agido diante dessa outra fome dos meus colegas de trabalho, dos meus familiares, amigos...? Tenho cumprido meu papel de sal e luz no mundo, transmitindo as boas novas que podem saciar essa fome?

Não estou falando de uma receita mágica para a felicidade; isso seria propaganda enganosa. Não há garantias de não sofrimento; pelo contrário, sabemos que teremos situações de aflições. O que estou colocando aqui é, estou tão inserida e até "moldada" por essa sociedade de meias verdades e relativismos que não estou com os olhos atentos para a dor daquele que está ao meu lado.
Há uma frase que eu realmente gosto muito! "Se a dor do outro não nos diz nada, algo não está certo..."; Aquela dor relatada no filme doeu muito; sabemos que é real e quando retratada do modo como foi fica mais "palpável" ainda. A pergunta é: a dor do meu próximo, está realmente doendo em mim?
Tenho sido sensível à dor do meu próximo?



Desculpem se há passagens desconexas e outras coisas do gênero, mas tudo faz muito sentido pra mim.

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